terça-feira, 21 de junho de 2011

DEPOIMENTOS


- Caro Maumau.
Quem tem de agradecer pelo convite e por toda a atenção sou eu. Não faltou nada. Pelo contrário, sobraram boas conversas e contatos com os colegas daí e de outros lugares.
Segue o depoimento, atendendo à sua solicitação:
- Foi uma dupla surpresa a minha participação da Feira do Livro de Canoas. A primeira foi o convite em si, algo que muito me honrou, ainda mais para falar de tema tão caro a mim, os quadrinhos latinoamericanos. A segunda surpresa foi ter contato com a acolhedora cidade, que não conhecia, e com a garotada da plateia (saí de São Paulo pensando que teria interlocutores mais velhos). Mas foi ótimo. Entendo que devamos ter diálogo frequente com os mais novos, ainda mais numa feira que se pretende discutir o papel do livro e, por extensão, da leitura também. Os leitores de hoje serão os adultos bem (in)formados de amanhã. E as histórias em quadrinhos, como bem ilustra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, têm papel de protagonistas nesse processo. Encerro com o necessário registro à acolhedora atenção dada por Maurício (Maumau) não só a mim, mas também a todos os demais convidados de fora. Mas isso não foi surpresa, já sabia que teria pelo perfil sempre cuidadoso dele. Deixo a todos o meu fraterno abraço e o desejo de ter contribuído, mesmo que seja um pouco, para fomentar novas perspectivas de leitura junto aos estudantes de Canoas.
Grande abraço, Paulo Ramos.



- Mais uma vez acompanhamos muito 
de perto (na verdade, de dentro!!!) 
a Feira do Livro de Canoas. E mais 
uma vez  a cidade de Canoas 
demonstra o vanguardismo de incluir as atividades 
de desenho de humor  e histórias em quadrinhos 
como elementos vivos da literatura, no caso a literatura da narrativa visual/textual.
A história em quadrinho começa a ser chamada de  
9ª arte e a feira comprendeu isso.
As duas atividades das quais participei funcionaram 
como experiências complementares: primeiro um 
descontraído encontro com professores e depois, o mesmo com 
um grupo de atentos alunos.
Nos dois momentos debatemos a importância da narrativa gráfica
como elemento didático e cultural.
Nesses encontros, contamos até com a possibilidade de aparecimento 
de novos talentos do desenho de imprensa.

Santiago
artista gráfico-cartunista


 - Salve, maumau!
o evento foi ótimo. eu que agradeço a super oportunidade.

foi inesperado, porém extremamente gratificante, o encontro com os alunos da escola ícaro, durante a feira do livro de canoas. todos os participantes se mostravam interessados e foram muito participativos. é bom saber que tem uma molecada interessada em quadrinhos, saber que temos uma geração se preparando para receber o nosso legado. a mesa redonda, em parceria com o novo amigo fabiano foi a mais interessante que já participei, pois as perguntas dos alunos eram muito inteligentes e interessadas, diferente do que normalmente acontece nos eventos com público adulto. Lobo






-  Foi um prazer participar da Feira do Livro de Canoas. Além dos amigos que revi e amigos novos que fiz, ao aproximar o público escolar aos autores, a Feira promoveu encontros inesperados e interessantes.Como o que vi de Lobo e um colega editor da Panini falando sobre o trabalho de editor, para crianças de 10 anos ou menos, que acompanharam com tremendo interesse e fizeram muitas perguntas pertinentes. Ali todos liam quadrinhos, o que além do seu valor intrínseco, é metade (se não mais) do caminho para a literatura. É o tipo de situação que nos dá esperança e a mim pessoalmente inspira a produzir para esse possível novo público, que ainda não desistiu dos livros.
Obrigado a você por ter me convidado. Voltei cheio de energia por ver os amigos e seus trabalhos.
E o que falo aqui no depoimento (atachado) é verdade - aquela meia hora ali vendo Lobo falar para crianças me deu uma vontade enorme de fazer algo para crianças.
A comparação com o público adolescente que pegamos é significativa - ali já começou (ou se completou) um achatamento cultural. Criança ainda tá aberta a tudo.
Não tem criança medíocre. A mediocridade, o fechamento para outras possibilidades, vem aos poucos.
A idéia de falar com eles antes que aconteça realmente me moveu.
Valeu.

Odyr Bernardi 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Luiz Coronel em homenagem à 27ª Feira do Livro.

Dez reflexões de um escritor homenageado.

1.           O livro e o mundo:

Nem as escavadeiras ou dinamites abrem tantos caminhos quanto os livros. Eles voam, qual aviões; mergulham fundo, tal submarinos. Testemunhas de nossos sonhos e pesadelos, ao abrirmos as páginas de um livro, abrimos janelas para o mundo. Quem lê vai longe.

2.           A Feira do Livro de Canoas:

O tempo consolida e confere respeito e crescimento ao que tem por pilares mérito e grandeza. Vinte e sete anos da Feira do Livro de Canoas.  Qual lampadóforos gregos, alcançando a tocha nos Jogos Olímpicos, sucessivas administrações municipais cumpriram à risca a incumbência de manter acesa essa chama do saber, essa motivação ao conhecimento.

3.           As crianças:

Devemos amar as crianças pelo que elas são e por tudo que poderão vir a ser. E eu lembro Fernando Pessoa: “por melhor que sejam as festas e as danças o melhor do mundo são as crianças”. Quero com isto salientar a atenção, prioridade conferida às crianças pela Feira do Livro. É sabido que a “Criança é o pai do homem” e que é na infância que se plasma, consolida o gosto pela leitura.

4.           A globalização:

Permitam-me abordar o tema globalização. A primeira delas, feito dos romanos. A segunda, a grande aventura marítima dos portugueses. Agora, uma terceira e mais abrangente: a revolução da informática. O mundo tornou-se instantâneo. É fato, está acontecendo e já virou notícia. Disse um jovem ao pai: “Tu sabes tudo o que passou. Nós sabemos de tudo que acontece agora”. Sem dúvida, uma nova geração desponta, com novos instrumentos para seu relacionamento com o mundo.

5.           As gerações:

Cada geração tem a vaga, imprecisa e inconsistente impressão de que o mundo começa com seu surgimento na paisagem humana. No entanto, somos e seremos sempre herdeiros e legatários de uma herança cultural que percorre o tempo. Ao acendermos uma lâmpada, devemos agradecer a Thomas Edson. A cultura é transmissão de conhecimento, de conquistas e desafios. Shakespeare, Machado de Assis, Mario Quintana não pertencem a um tempo, pois a arte, quando verdadeira, eterniza-se como patrimônio da humanidade.

6.           A comunicação:

E aqui chegamos ao fenômeno comunicação, e, por vias diretas, ao livro. Nem toda informação é conhecimento, nem todo conhecimento é cultura. Cultura é o que instrumentaliza o homem em sua relação com a sociedade, com seu tempo, com seus projetos, consigo mesmo. O livro, a partir de Gutenberg, torna-se um dos mais esplêndidos fatores da democratização da cultura. São os poetas, tratando as mil nuanças das palavras, os romancistas, destelhando as vidas para bem senti-las, historiadores, ensaístas, todos comprometidos com o conhecimento. Louve-se o livro, pois sem ele é a treva. “O livro é a maior revolução”, disse Victor Hugo.

7.           O jornalismo:

O jornalismo soletra o mundo de forma ágil, rápida, instantânea e necessária. Salvo honrosas exceções, cria informações, mas é efêmero seu comprometimento com a conscientização do significado dos fatos que narra. A sociedade contemporânea criou a figura do alienado informado: sabe de tudo, mas não tem consciência, em profundidade, de nada. Então surge, majestoso e digno, o livro, propiciando um conhecimento paciente, silencioso, profundo e verdadeiro da vida, da história, dos fatos.

8.           O Brasil e a leitura:

Somos um dos países de menor índice de leitores. E pior, um dos últimos na aferição de capacidade de decodificação lógica ou sensível do que lê. Não se constrói uma nação com cidadania verdadeira se não contarmos com uma coletividade competente para pensar, avaliar, decidir, participar. As pedras, lajes que pavimentam este caminho são constituídas por livros. Na linguagem das pedras, se construiu palácios para expressar o poder; muralhas, a propriedade; cárcere, as punições; lápides para exprimir a morte; torres, para erguer catedrais. Com o livro, construiu-se um monumento às ideias.

9.           Educação e leitura:

Jorge Luís Borges escreveu: “o arado, a espada, constituíram-se com extensões das mãos, o livro, uma extensão da imaginação”. Bendito seja quem aprende para saber e abençoado quem sabe para ensinar. Senhores mestres, senhoras professoras, senhores pais: em vez de armas, grifes, frivolidades... Livros, muitos livros às nossas crianças. A cada hora de TV, duas horas de leitura. Uma lâmpada de cabeceira é um farol a iluminar nossas vidas. “O livro é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar” disse nosso imenso Castro Alves.

10.      Palavras e imagens:

“Enquanto houver perguntas e não encontrar as respostas, continuarei a escrever.” Já vão lá cinquenta livros editados. Sinto certo orgulho de coordenar e editar a coleção dicionário para o Grupo Zaffari. Escrevo com acesa paixão, quando o tema é o Rio Grande. Criar é parir “uma estrela bailarina”. Cultuo a palavra. Se a imagem cintila uma impressão, a palavra, a frase, constroem conceitos. Como lembrou Saramago, ainda é possível verter lágrimas sobre as páginas de um livro, mas não creio que o mesmo aconteça sobre uma tela de computador. Ler, um dia escreveu o Quintana, é a melhor maneira de estar sozinho e ao mesmo tempo bem acompanhado. O muito, ou pouco, que alcancei em minha vida, credito aos livros.

Luiz Coronel